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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A PIADA DO DUENDE DE ROBERT MCKEE

Atualizado: 4 de set.

Robert Mckee costumava ser o papa dos manuais de roteiro e ainda é, em certa medida, mas hoje há muitos outros nomes, ferramentas e abordagens. O caso é que todo roteirista ou aspirante que se preze tem uma cópia (mesmo que por vias escusas) do STORY, mesmo que esteja na prateleira como porta poeira ou só ocupando espaço ocioso no Kindle.

 

O livro é basicamente o seu “Story Seminar”, o seminário que ele dá presencialmente compilado. O mesmo seminário que aparece no filme Adaptação que ajudou a fomentar ainda mais o mito do professor de roteiro durão em uma engenhosa estrutura em metalinguagem.


O genial diálogo entre o roteirista inseguro interpretado Nicolas Cage e Brian Cox interpretando Robert McKee no Seminário de Roteiro Story.

Em 2012 eu fui no famoso Story Seminar em São Paulo, lá estavam presentes em um cinema lotado no Shopping Eldorado, muitos profissionais do audiovisual, uma fauna bastante diversa, gente de várias gerações reunidas para ouvir aquele senhor de cabeça branca e rosto avermelhado. O audiovisual brasileiro em peso foi ouvir o "demiurgo do roteiro".


Diferente de Syd Field, outro manualista, que fala mais de sua experiência em um contexto de filme comercial e estabelece regras e formatos limitados, McKee têm uma bagagem mais ampla de dramaturgia e as variadas formas de estrutura de uma história. Apesar de não ser um conhecimento sistemático, é bastante útil.


Os manuais de roteiro assim como a inteligência artificial estão nesse lugar da consulta, da pesquisa, do estudo que é necessário e constante na profissão. São instrumentos de aprendizado, de trabalho e de aquisição de conhecimento e técnica.


A diferença do Seminário do McKee e o livro são as piadas, informações de bastidores e aquela impressão de que a qualquer momento ele vai explodir… como explodiu!

Umas duas vezes com pessoas que teimavam em não desligar o celular!


Uma “anedota” que Robert McKee contou e que lembro muito foi a piada do duende do roteiro: Um certo roteirista estava com bloqueio criativo, daqueles brabíssimos. Sem conseguir escrever uma linha em todo o dia de trabalho ele vai dormir frustrado.


Ao acordar, encontra o primeiro ato perfeito, lindo, tudo batendo certo e com um baita gancho pro segundo ato! Mas ele não sabia como continuar, o dia todo tentando pensar soluções e nada. Nem um caractere.


No dia seguinte, o segundo ato surge como por encanto. Incrível! Coisa de gênio, mas como antes ele não sabia como continuar. Aí ele teve uma ideia: vou fazer vigília escondido no escritório durante a madrugada.


E então ele flagra um duendezinho, se aproximando do computador, ligando, entrando no Final Draft e digitando furiosamente.  Ao final da sessão de escrita, o roteirista se revela, agradece, se emociona, até notar a capa: o nome dele não está! O roteirista tenta negociar créditos com o Duende, mas não consegue.


Moral da história, você tem que trabalhar, tem que criar, tem que suar para escrever, não existe duende do roteiro, mesmo se houvesse, como ele faz o trabalho todo, ele não divide os créditos!


Naquela época, McKee não vislumbrava a IA e todas as aplicações que já estão sendo usadas para escrever parcial ou completamente roteiros. A IA é o nosso duende moderno. Resolve buracos, sugere diálogos, organiza viradas, simula estilos. Mas se o Chat GPT faz todo o trabalho, por que seu nome está na capa? 


Capa de roteiro escrito por Chat Gpt e Fulado de tal

Não sou contra o uso da IA na escrita, pelo contrário, são ferramentas úteis...MAS CALMA LÁ, eu sei que tem muita gente em pânico de que a IA “vai dominar tudo”. Eu não sei se vai ser bem assim, mas o medo é legítimo: padronização de linguagem, pressão do volume e velocidade de coisas sendo criadas, além da tentação do atalho barato e outras maracutaias.


MAS PERA LÁ TAMBÉM, Inteligência Artificial não cria relevância, não consegue articular emoções, não tem objetivos nem desejos e o principal não tem INTENCIONALIDADE. O escritor é quem decide, o público reconhece a singularidade assim como reconhece a estética gasta e o batida produzida pela IA.


Ferramentas são aceleradores; sem direção autoral, apenas produzem o “médio” estatístico. Em mercados criativos, o valor continua sendo da voz autoral, no sentido de que ALGUÉM conta essa a história, existe um ponto de vista de uma experiência humana por trás.


O caminho, então, é estratégico: usar IA como escada, não como cadeira. Para diagnosticar estrutura, gerar hipóteses de cenas, mapear arcos e inconsistências, testar leituras alternativas e depois escolher, cortar, reescrever. Cada um sabe o seu processo. Trate a máquina como um leitor exigente, não como coautor invisível.


Diferente do duende do roteiro de Mckee, o IA não sabe continuar a SUA história, é você que tem que saber. 


Falando em Mckee, em um intervalo de um dos dias do Seminário, tomei coragem e fui falar com ele, com meu inglês à época bem meeiro. De alguma forma consegui me comunicar, falei sobre uma ideia que  tinha na época, disse que me interessava muito por thriller, suspense e terror. Ele disse o que ele sempre dizia por aí… “estude o seu gênero!” 


E eu fiz isso, desde então temos estudado bastante todos os gêneros que nos emocionam. 


Pra finalizar Mckee autografou a minha edição e escreveu uma frase simples, mas que pra mim diz muita coisa sobre o tema aqui tratado:



“Escreva a verdade.” 

Página autografada do livro Story do Robert Mckee
"Write the truth"

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Aqui na Tropical Dystopia usamos ferramentas de IA em algumas etapas de desenvolvimento de roteiro. Se você quer integrar IA ao processo sem perder autoria, nossa mentoria existe para isso: para usar ferramentas a serviço de sua voz singular.




 
 
 

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